Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro-Velho venceu e convenceu o Festival de Berlim este ano. Levando o Grande Prêmio do Júri, Urso de Prata de melhor ator para Nazif Mujic e uma menção especial no Prêmio do Júri Ecumênico - por "retratar pessoas invisíveis, dignas, resistentes e com invencível vontade de viver" -, o filme dirigido pelo bósnio oscarizado Danis Tanovic (Terra de Ninguém) foi selecionado posteriormente para muitos festivais, inclusive dois festivais brasileiros que estão acontecendo simultaneamente este mês: o Festival do Rio 2013 e o INDIE 2013.
Assim como Apenas o Vento, que também arrebatou prêmios em Berlim ano passado, este é mais um filme-denúncia das políticas - ou a falta delas - acerca das condições dos ciganos residentes na Europa Central. Se o problema no longa de Benedek Fliegauf é a negligência da polícia frente aos assassinatos de ciganos em massa ocorridos na Hungria, no de Tanovic é a negligência do sistema de saúde numa questão extremamente delicada, a qual discorrerei mais à frente, na Bósnia.
Acontecimentos simples dão início ao longa. As personagens estão vivendo tranquilamente, um trabalha, outro faz a comida, outro corta a lenha, e por aí vai (vale dizer que os personagens centrais da história são reais, inclusive recebem os mesmos nomes dos atores). É quando uma mulher grávida tem seu bebê morto dentro dela que as coisas complicam. Para ela sobreviver necessita-se retirar o feto de dentro de sua barriga, mas sua condição social - diga-se, pobre - não lhe dá este direito.
As comparações com Apenas o Vento também se dá no âmbito técnico. De característica demasiada realista, Um Episódio na Vida de um Catador de Ferro-Velho é filmado com câmeras portáteis buscando o documental, com uma estética e enquadramentos muito rigorosos. E isso contribui para o conteúdo da história que, numa crescente, vai ganhando peso e atenção do espectador.
"Na época da guerra era melhor. Tínhamos auxílio do estado e condições melhores", diz certa altura o marido da mulher desabafando - e é aí que o filme se torna claramente político. Tanovic dá voz aos ciganos de uma Europa moderna negligente e preconceituosa num filme que, baseado em fatos reais, nos mostra esse tipo de situação bloqueada: não há mais guerra, conquistaram a democracia e a liberdade, mas por outro lado há a omissão do Estado e a predominância do setor privado num sistema em que o pobre nunca é favorecido - nem para uma cirurgia que pode salvar sua vida.
Cobertura do Festival do Rio 2013.
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