O título do filme de estreia de Francisco Garcia na direção já convoca reflexão no espectador. Filmado em preto e branco, decifrar a ironia do título é só o ponto de partida para adentrarmos na complexidade das problemáticas da contemporaneidade. Selecionado para a competição Novos Diretores dos festivais de San Sebastián 2012, na Espanha, e 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o longa-metragem escrito por Garcia e Gabriel Campos reflete as lacunas que o progresso econômico do país não consegue preencher.
A discussão principal do filme se pauta na imobilidade fixada nos três personagens protagonistas: Luca (Pedro di Pietro), Luiz (Acauã Sol) e Luara (Simone Iliescu), são de uma geração em que o capitalismo clama por especialidades e excede-se em competição. Aqueles sem uma formação, diploma ou derivados acabam, na maioria das vezes, às margens da sociedade. A câmera de Garcia - sempre fixa - posiciona-se no início do filme em frente à televisão e capta o ex-presidente Lula discursando sobre a eficácia do governo em escapar da crise e sobre a retomada do crescimento econômico. Mas essa positividade pelo progresso parece não alcançar nenhum dos três. Ambos na casa dos 30 anos, encontram na amizade um meio para não sentirem o vazio causado pela monotonia de suas vidas.
Luca, apesar de ter um estúdio de tatuagem, não trabalha - vive com às custas da vó. Luiz e Luara moram juntos num apê decadente atrás de um aeroporto. Enquanto Luiz trabalha atrás de um balcão numa farmácia, Luara trabalha atrás de um balcão na loja de peixes. Ali, parados, vendo o tempo passar, vão perdendo aos poucos as esperanças. O progresso não os atinge. Da viagem que não acontece, da polaroide que captura imagens sem significado aparente, a vida segue sem perspectiva e sem grandes possibilidades (cores). Só duas saídas: o preto, Luiz para ter um trocado a mais no fim do mês recorre a ilegalidade; e o branco, a oportunidade de ir para todas as cores, a qual o cliente - piloto de avião - da loja de peixes oferece a Luara - que é segura ao recusar por não querer abandonar seu namorado e amigo.
A belíssima fotografia acentua na metrópole paulistana a efemeridade do tempo, a busca pelo progresso tecnológico, a transitoriedade rotineira das pessoas. A edição de som marca paulatinamente os ambientes, caracterizando-os da melhor forma possível, e às vezes servindo até como personagens extracampo. A direção de Garcia mostra-se segura quando o mesmo consegue trabalhar de maneira eficaz o tempo de cada plano, conseguindo desenvolver muito bem os personagens. Por outro lado os atores estão em boa sintonia e performance, apenas ficam reféns dos diálogos que, em sua maioria, encontram-se bastante didáticos.
Parece que a geografia é um fator que atrapalha. Os espaços condicionam. Da sacada do edifício, Luara contempla a esperança. A tartaruga com o casco para baixo, impedindo-a de andar, é só uma metáfora para a imobilidade dos personagens. A fritada de ovos do final mostra que Cores é pessimista e que contemplar a esperança é o máximo que poderão fazer.
Ficha técnica
Direção: Francisco Garcia
Roteiro: Francisco Garcia e Gabriel Campos
Elenco: Acauã Sol, Pedro di Pietro, Simone Iliescu e Tonico Pereira
Produção: André Gevaerd e Sara Silveira
Distribuidora: Pandora Filmes
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