O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são. Protágoras de Abdera (490-421a.C.)
Como pensar hoje a estética? E a política? A tendência me parece é sempre pensar as duas palavras separadas, tentando relacionar estética somente às práticas artísticas, como música e literatura, e a política somente às eleições partidárias e debates ideológicos, como direita versus esquerda. De certo para um debate mais atual sobre essas duas concepções se faz necessário evocar o filósofo Jacques Rancière após sua formulação de partilha do sensível.
Francês ainda vivo e
professor emérito da Université de Paris VIII (Saint-Denis),
Rancière vem contribuindo de maneira significativa para o debate em
torno da estética, principalmente para o cinema. E é por isso que
eu o trago aqui para o blog. Tendo algumas de suas obras publicadas
aqui no Brasil pela Editora 34, Contraponto e Martins Fontes, o
filósofo veio ao Brasil recentemente (num seminário em sua
homenagem realizado na UFRJ em 2012) e já teve textos publicados
pelo jornal Folha de São Paulo.
Rancière lida com a
partilha do sensível em mais de uma obra, mas é certamente
com a publicação de Le partage du sensible,
em 2000, que se solidifica definitivamente esse seu conceito:
“Denomino partilha do sensível o sistema de evidências sensíveis
que revela, ao mesmo tempo, a existência de um comum e dos recortes
que nele definem lugares e partes respectivas. Uma partilha do
sensível fixa portanto, ao mesmo tempo, um comum partilhado e partes
exclusivas. Essa repartição das partes e dos lugares se funda numa
partilha dos espaços, tempos e atividades que determina propriamente
a maneira como um comum se presta à participação e como uns e
outros tomam parte nessa partilha.”
Fazendo
analogia com a estética transcendental de Kant, em que percebemos a
priori o espaço e o tempo, ou seja, o espaço e o tempo são formas
puras da intuição sensível, são condições necessárias de
possibilidade dos fenômenos, Rancière postula a ideia de que já
estamos na partilha do
sensível quando nos
damos conta de nós. E é por isso que a política e a estética
terão que ser ressignificadas.
Relendo
Platão, Rancière falará que a partilha
do sensível “faz ver
quem pode tomar parte no comum em função daquilo que faz, do tempo
e do espaço em que essa atividade se exerce”, assim, nesse
sentido, a política e a estética aparecerão juntas,
simultaneamente. E a definição de uma também caberá à outra, a
saber, “A política[/estética] ocupa-se do que se vê e do que se
pode dizer sobre o que é visto, de quem tem competência para ver e
qualidade para dizer, das propriedades do espaço e dos possíveis do
tempo.”
Bibliografia:
Rancière, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. Tradução de Mônica Costa Netto. São Paulo: Editora 34, 2009 (2ª edição), páginas 15-17.
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